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É #Fake que a Petrobras devido à corrupção era a petrolífera mais endividada do mundo

O diretor financeiro de relacionamento com investidores da Petrobras, Rodrigo Araújo Alves, lembrou que a Petrobras chegou a ser considerada a empresa de óleo e gás mais endividada do mundo.

Essa afirmação é uma meia verdade. E, portanto, uma meia mentira que se converte em uma visão falsa porque tira de contexto o endividamento da Petrobrás em relação às outras gigantes petrolíferas.

Nos piores momentos de endividamento da Petrobrás, sua situação era equiparável à da Equinor e da BP, duas das principais companhias de petróleo do mundo.

A Petrobrás, entretanto, era a única empresa petrolífera do planeta que havia descoberto grandes jazidas de petróleo no século XXI, o pré-sal. Tão grande essa reserva que está tornando o Brasil uma potência petrolífera mundial entre as três maiores reservas de petróleo do mundo – junto com a Venezuela e a Arábia Saudita.

A Petrobrás necessitava investimentos da ordem de U$ 250 bilhões entre 2009 e 2014 para operar os campos de petróleo do pré-sal e construir quatro novas grandes refinarias de petróleo – Abreu e Lima, em Pernambuco; Comperj, no Rio de Janeiro; Premium I, no Maranhão; e Premium II, no Ceará. Para isso, a Petrobrás contraiu uma dívida que, apesar de necessária, era alta. Tratava-se de um endividamento momentâneo para alavancar investimentos que tornariam o Brasil autossuficiente na produção e refino de petróleo, portanto, em uma potência petrolífera mundial.

A Petrobrás também precisava comprovar essa imensa reserva, pois hoje são contabilizados menos de 5% como reservas provadas. Além disso, essa camada do pré-sal encontrada no sudeste brasileiro se estende até as águas profundas de Sergipe/Alagoas e na margem equatorial que vai do Amapá até o Rio Grande do Norte. É fundamental mensurá-la em toda sua magnitude porque é um patrimônio subavaliado, justamente para que as multinacionais possam comprar esses campos a preços irrisórios. 

Nenhuma grande empresa petrolífera do mundo estava diante de tal desafio. Dessa forma, era mais do que justificado esse endividamento sadio, pois a Petrobrás utilizou recursos de terceiros para ampliar a exploração do pré-sal. Esse negócio petrolífero, que  é hoje o mais rentável do mundo, não só gera recursos para pagar as dívidas como também para entregar dezenas de bilhões de dólares por ano aos acionistas, na forma de dividendos. 

“A dívida da Petrobras é proporcional às reservas em desenvolvimento do pré-sal e aos investimentos de mais de US$ 250 bilhões, de 2009 a 2014, sendo perfeitamente administrável pela companhia que cresce, tanto na produção, quanto na geração operacional de caixa. (Oliveira & Coutinho, 2017)”.

Qual o grau de endividamento ideal para uma grande empresa?

Não há uma resposta exata para essa questão. Depende do momento da empresa, do que tenha que investir em novos campos, se está trabalhando uma nova tecnologia de ponta, se está alavancando sua performance no mercado mundial. Mas depende, principalmente, de qual é o papel da empresa no seu país de origem: se é uma estatal que faz parte do desenvolvimento econômico e social da nação ou se é uma empresa privada, cujo objetivo central é auferir lucros para seus proprietários privados.

A questão da dívida da Petrobrás foi superdimensionada a partir do momento em que modificou o plano da companhia para atuar como empresa privada, em 2014, na gestão Bendine, durante o segundo mandato de Dilma Rousseff. As mudanças foram feitas no sentido de reduzir o tamanho da empresa e priorizar o pagamento da dívida e pagar dividendos aos acionistas.

A partir daí iniciou-se o “desinvestimento” (nome elegante para a privatização), a priorização de repassar lucros para os acionistas e acelerar o pagamento das dívidas em detrimento dos investimentos na Petrobrás. Esse plano foi acelerado com Temer e levado a extremos com Bolsonaro, como pode se observar na tabela abaixo:

Dados financeiros da Petrobrás – 2010/2021 – em milhões de reais e %

ANODÍVIDA LÍQUIDA R$EBITDA AJUSTADO (CAIXA) R$DÍV LIQ X EBITDAINVESTIMENTO ANUAL R$DIVIDENDOS PAGOS
201061.00759.3211,0%76.41111.730
2011103.02262.2461,6%72.54610.659
2012147.81753.4392,7%84.1008.876
2013221.56362.9673,5%104.4165.776
2014282.08959.1404,7%87.1408.735
2015391.96276.7525,1%76.3200
2016314.10088.6933,5%55.3500
2017280.80076.5573,7%48.2191.993
2018268.824114.8522,3%49.3707.055
2019317.867129.2492,4%108.28510.682
2020328.268142.9732,2%41.54710.300
2021265.778234.5761,1%47.520101.300

Fonte: Relatórios anuais da Petrobrás – elaboração ILAESE

Apesar de níveis elevados de endividamento da Petrobrás entre 2014 e 2017, a situação era resultado dos pesados investimentos que a estatal tinha que realizar. Nunca foi questionada a possibilidade de a Petrobrás honrar suas dívidas, pois o aumento do endividamento foi acompanhado pela redução do custo de captação da empresa e da melhora da avaliação de risco por parte das agências de rating.

A partir desse plano de privatização, diminuíram drasticamente os investimentos produtivos na Petrobrás – como se pode ver na tabela acima entre os anos de 2014 e 2017 – e se antecipou o pagamento de dívidas aos grandes bancos internacionais, que também são acionistas da estatal. Esses acionistas estavam incomodados com a queda de pagamento de dividendos, que foi de zero em 2015 e 2016, pois estavam acostumados a receber cerca de R$ 10 bilhões de lucro por ano.

Chegado a um nível de alavancagem “normal” em 2018, a nova gestão bolsonarista da Petrobrás continuou diminuindo os investimentos na empresa enquanto aumentou assustadoramente o pagamento de lucros aos acionistas.

A situação atual chegou a um nível bizarro, com o pagamento de R$ 101 bilhões de lucros aos acionistas (multiplicou por dez os lucros, aumentando drasticamente os preços dos combustíveis), enquanto o investimento na empresa foi metade do que se investia em 2012. O caixa anual da estatal é suficiente para pagar quase toda sua dívida. Ou seja, o total de riqueza produzida pelos trabalhadores da Petrobrás está sendo alocado não para o desenvolvimento da empresa ou do país, mas para o enriquecimento de um punhado de grandes bancos internacionais.

O que é mais trágico é que a diretoria da Petrobrás triplicou seus ganhos. Diretores ganharam bônus de R$ 1,5 milhão para garantir a redução da dívida e o aumento dos lucros. Como se vê, a gestão da Petrobrás atua defendendo os interesses dos grandes bancos nacionais e internacionais e dos grandes acionistas. Estão transformando a estatal em uma empresa privada, como outra qualquer.

É justo o argumento de vender partes da Petrobrás para pagar dívida? Nenhuma empresa do mundo faz isso, a não ser que tenha falido. A Petrobrás nunca esteve em perigo de falir, como demonstra todos seus dados financeiros nos últimos 10 anos.

É justo antecipar pagamento de dívida para a “recuperação financeira” de uma empresa que tem caixa sobrando para pagar sua dívida?

A demonstração da falsidade da orientação neoliberal imposta à Petrobras é de que em 2013 a dívida da empresa era de U$ 114,3 bilhões, pagando juros médios de 4,5% ao ano. Depois de antecipar pagamentos e a dívida cair para U$ 58,7 bilhões em 2021, os juros médios anuais subiram para 6,2% ao ano.

A empresa está sendo saqueada por banqueiros nacionais e internacionais e utilizam as fakes news bolsonaristas para enganar a população brasileira.

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