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Petrobrás remunera seus trabalhadores abaixo dos concorrentes e o abismo se eleva a cada ano

Por ILAESE

            O Brasil atingiu, com particular intensidade no último período, um grau tão elevado de precarização e informalidade do trabalho que é comum a propaganda de que os trabalhadores da Petrobrás seriam privilegiados. Os salários elevados e a estabilidade no emprego, dizem, impediriam a empresa de ser competitiva, estando um passo atrás dos demais concorrentes no mercado internacional.

            Ainda que fosse esse o caso, a lógica de que é necessário reduzir a remuneração porque outros recebem menos ou precarizar as condições de trabalho porque existem condições ainda piores, no limite, leva a deterioração geral da situação de toda a classe trabalhadora. O contrário também é verdadeiro. Melhorias em um dado setor, tende a favorecer conquistas e avanços nos demais. De qualquer modo, o argumento apenas seria válido, em termos da competição capitalista, se as condições de trabalho e de remuneração da Petrobrás forem superiores à dos concorrentes. Como veremos, este não é, de modo algum, o caso.

            Para uma análise correta da situação, devemos, portanto, comparar a remuneração dos trabalhadores da Petrobrás com as demais empresas do setor que concorrem no mercado mundial, isto é, as grandes empresas internacionais responsáveis pela extração de petróleo e gás em todo o mundo. Nesse sentido, o presente estudo compara a remuneração média dos trabalhadores das principais empresas de capital aberto do mundo, cujos dados salariais foram divulgados. Um limite é que as empresas estadunidenses do setor não divulgam informações salariais, como a EXXON MOBIL e a CHEVRON. Ainda assim, conseguimos uma amostragem significativa que abrange gigantes do setor como a empresa norueguesa EQUINOR, a britânica BP, a francesa TOTAL, a italiana ENI, a espanhola REPSOL e as chinesas PETROCHINA e CNOOC.

            Todos os dados aqui presentes foram extraídos dos relatórios anuais das respectivas empresas. Para efeito de comparação, calculamos a média salarial como resultado da relação entre a massa salarial divulgada pela respectiva empresa e o total de trabalhadores diretos empregados. Em todos os casos, os respectivos valores foram convertidos para o dólar seguindo a contação média anual, de modo a permitir a comparação.

            Dito isso, apresentamos abaixo a remuneração média, em 2020, de todas empresas indicadas.

Fonte:Relatórios Anuais das respectivas empresas. Elaboração: ILAESE   

           Como podemos ver, a remuneração média anual na Petrobras é a segunda mais baixa de toda amostragem considerada. Ela é 67% menor que a remuneração média dos trabalhadores da norueguesa EQUINOR, 60% menor que a britânica BP e mesmo 14% abaixo da chinesa CNOOC. A única empresa cuja média da remuneração anual em 2020 ficou abaixo da Petrobrás foi a gigante chinesa PETROCHINA, com 49 mil dólares de remuneração média anual. Mesmo nesse caso, a tendência na evolução da remuneração de ambas as empresas são opostas, como indicamos abaixo:

Fonte:Relatórios Anuais das respectivas empresas. Elaboração: ILAESE  

            É possível ver que, enquanto a remuneração média anual dos trabalhadores da Petrobrás caiu continuamente desde 2011, passando de 98,5 mil dólares anuais, na PETROCHINA temos um movimento oposto: passou-se de 27,2 mil dólares em 2011 para 49,5 mil dólares em 2020. Enquanto na Petrobrás houve uma queda de 37% da remuneração média anual, no mesmo período a gigante chinesa viu a remuneração média crescer 82%. Pela tendência indicada, vemos que é questão de tempo para a remuneração média dos trabalhadores da PETROCHINA ultrapasse a dos trabalhadores da Petrobrás, como alias, já aconteceu com a petrolífera chinesa CNOOC.

            Em verdade, esse movimento é geral. A cada ano, o abismo entre a situação dos trabalhadores da Petrobrás se eleva diante de todos demais concorrentes. Indicamos a seguir a variação da remuneração entre 2011 e 2020 para todas empresas consideradas.

Fonte:Relatórios Anuais das respectivas empresas. Elaboração: ILAESE  

            Como se nota, em todos os casos, houve crescimento nominal da remuneração média dos respectivos trabalhadores. A única exceção é a francesa TOTAL. Ainda assim, a diferença é enorme. Enquanto na TOTAL houve retração dos salários em 9,94%, na Petrobrás a redução foi de 37,12%. Ou seja, a diferença é de praticamente 4 vezes.

            Ressaltamos que se trata de uma tendência tanto de curto como de longo prazo. Acima, consideramos a evolução da remuneração na média duração, entre 2011 e 2020. Caso consideremos apenas o período de 2019 e 2020, a diferença é ainda maior.

Fonte:Relatórios Anuais das respectivas empresas. Elaboração: ILAESE  

            É evidente que a variação do câmbio e a desvalorização da moeda brasileira foi um fator relevante para os números que apresentamos acima. Nos últimos 10 anos, a moeda brasileira sofreu profunda desvalorização, em patamar muito superior, por exemplo, a moeda chinesa, o euro ou a libra. Todas elas desvalorização diante do dólar. No entanto, nesse caso, o argumento não é válido por dois motivos. Em primeiro lugar, a Petrobrás insiste em precificar seu produto em dólar. Ou seja, o petróleo é vendido na moeda dos Estados Unidos, ainda que a maior parte da sua força de trabalho seja paga em real. Esse mecanismo permite a Petrobrás extrair um sobrelucro de toda sua produção, sendo um fator que a favorece na competição internacional.

            Além disso, o percentual que a massa salarial da empresa ocupa sobre a totalidade das receitas da empresa também se encontra entre as mais baixas, como indicamos abaixo:

Fonte:Relatórios Anuais das respectivas empresas. Elaboração: ILAESE  

            Como podemos notar, apenas 5,66% da arrecadação da Petrobrás é direcionada aos salários e benefícios de seus trabalhadores diretos. Esse índice é próximo aquele verificado pela BP (5,49%), a CNOOC (5,13%) e a REPSOL (5,60%). No entanto, bem abaixo da maior parte das empresas analisadas, isto é, EQUINOR (8,73%), TOTAL (7,44%), PETROCHINA (7,63%) e ENI (6,51%). Importante notar, ainda, que todas empresas consideradas são multinacionais com atuação em todo o mundo. A italiana ENI, por exemplo, possui a maioria de seus campos de exploração na África, com moedas bem mais desvalorizadas que o real. Ainda assim, a remuneração dos trabalhadores da Petrobrás representa uma fração inferior da receita líquida da empresa.

            Em outras palavras, a condição e remuneração média dos trabalhadores da Petrobrás é uma condição que favorece a empresa na competição capitalista com os demais concorrentes, tanto na atualidade e, mais ainda, em função da tendência geral verificada na última década que tende, cada vez mais, aprofundar o abismo entre a remuneração dos trabalhadores de Petrobrás e aquela das demais empresas do setor.

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